terça-feira, 30 de novembro de 2010

Consolo na praia

(Van Gogh- Noite de Outono)

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

(Carlos Drummond Andrade)

sábado, 6 de novembro de 2010

Idéias Compartilhadas

PERVERSIDADE


Muito já se escreveu sobre o dinheiro. Não tenho a pretensão de acrescentar algo inusitado e pertinente, apenas lamentos e desabafos na forma de crônica mal humorada. Computador meu, cabeça oca minha.

A busca de dinheiro bastante para vivermos com relativa dignidade burguesa consome nossa vida. Ele é central e mortal. Está configurado o absurdo em seu estado bruto.

Não me dou bem com ele; o uso com raiva; trabalho com raiva quando me vejo reduzido a um caçador de salário; consumiu-me toda a vida adulta, que já vai pela bola sete. A pouca arte que crio nunca me deu dinheiro algum. Acabo dando. Porque me pedem ou porque ofereço. Nunca me perguntam quanto custa. Gerente de banco não passa de um quitandeiro perverso, que, em vez de batatas, vende dinheiro a preços escorchantes.

Não vejo mesmo sentido algum na vida, essa que a humanidade consome nas cidades, correndo atrás de dinheiro. Como galinha, acorda bicando e ciscando, e vai assim até o anoitecer. Esta ausência de sentido, inefável e intangível, não me incomoda tanto; assim como o mistério do universo. Não sinto a menor falta de deus (-es) ou mesmo de fé; apesar de concordar com Woody Allen, para quem os adeptos de crenças parecem (ou são) mais felizes. Felicidade não é coisa que me interesse. O prazer anda por aí; às vezes, nos encontramos.

O dinheiro desencadeia obsessões aterradoras, mas também favorece a conquista de alguns prazeres adquiríveis, confessáveis ou inconfessáveis. Enfureço-me quando sei que, sem ele, não há sobrevivência. O escambo está fora de ordem, como sabemos. O dinheiro toma contornos de autoridade. Para mim, não há autoridade legítima, confiável. Consumada numa pessoa ou abstrata. Nenhuma. Desconfio, duvido, desautorizo e me armo. A hierarquia é uma fabulação sinistra.

Prefiro a noção de que as pessoas têm tarefas autoimpostas a cumprir em momentos passageiros, curtos ou demasiadamente longos. São tarefas diferentes e complementares entre membros de um mesmo projeto instituído. O que não implica sobrepujança de uns sobre os outros. Noção inútil nas relações de trabalho que nos são impostas. O “Eu mando, você obedece” resulta em mecânica que, em algum momento, vai azedar.

O dinheiro, em sua forma mais pedestre, mero meio de pagamento de produtos e serviços, não existe na dimensão empírica de nossa vida acentuadamente urbana. É meio que vaza para fim, num piscar; em simbiose neurótica que, à maneira de um stand-by, antecede a demência. Esta, como o prazer, também está por aí em 69 prestações. Os encontros são profícuos em sua incerteza perversa. Parece que o desejo não nos faz muito bem, ou nunca sabemos como lidar com ele. Para piorar, o dinheiro vem transfigurado em sua sombra, na forma de dívidas intermináveis. Diante da necessidade e do desejo, o bicho-homem insiste nos dois; muitos insatisfeitos, poucos cinicamente obesos.


Texto retirado do blog Dilema Paulistano: divagações em torno da vida urbana e outras elucubrações, texto do arquivo 24/10/2010 a 31/10/2010. Postado por Antônio Rebouças Falcão.

Vamos gerar um descontentamento massivo!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

eleições, mídia e internet

(autor desconhecido)


É certo que mesmo tendo sido a candidata Dilma Rouseff eleita com a maior porcentagem dos votos nestas eleições de 2010, não dá pra sentir-se totalmente satisfeito, porém ... por outro lado podemos perceber que o Brasil já não é aquele país totalmente manipulado pela rede globo, como vivenciado em 1989 quando a emissora manipulou e editou o debate eleitoral, entre Fernando Collor e Lula, favorecendo Collor levando-o a ganhar as eleições. Os eleitores este ano, simplesmente, disseram não a rede globo, e outras emissoras que conseguiram destaque no país de uns anos pra cá; todas com forte apelo na propaganda usada em prol do candidato tucano.

Com a popularização da internet, ocorre a descentralização da informação, dando a possibilidade, cabe ressaltar a 'possibilidade' de o cidadão buscar informaçãoes em diferentes veículos de informação, comparar as diferentes maneiras que esta informação é repassada, assim não fica preso a uma verdade absoluta ... cabe a nós, e claro, a nossa nova presidente buscar formas de não sermos privados desta tal 'possibilidade', por isso é importante investir em educação digital, e na luta contra a monopolização de bandas largas, e plataformas usadas para navegação na rede ...

Só havendo conscientização do povo, teremos assim, autonomia da população, e só então, poderemos fazer política; a descentralização dos sistemas de informação, tem grande importância neste processo.